Por Marcelo Camargo
– “Vai pra quanto?”, pergunta um corredor ao atleta do lado, minutos antes da largada.
– “Pra quatro e você?”
– “Quatro e quinze, mas vou tentar te acompanhar”, concluiu.
Pra quem não faz parte do universo da corrida, ouvir uma conversa dessa parece ser coisa de maluco. Sabemos que é uma conversa típica de amigos e até mesmo entre desconhecidos, nos minutos que antecedem uma largada. Mais comum ainda é, ao final da prova, cravar o cronômetro para conferir o tempo feito e após a linha de chegada, perguntar novamente: “Fez quanto?” ou “Pra quanto fez?”.
Jamais perguntem a um corredor a quantos quilômetros por hora ele corre. Certamente ele terá dúvidas no cálculo, mas terá de pronta resposta os minutos por quilometro que é capaz de fazer em uma determinada distância.
Ritmo ou pace é o resultado do tempo médio a cada quilometro. Em corridas de rua, o ritmo é dado em min/km. Diferente da unidade de medida encontrada, por exemplo, nos automóveis em km/h, que é entendida como a distância percorrida no intervalado de tempo igual a uma hora. Sendo assim é facilitado ao corredor utilizar a unidade min/km para calcular o resultado final de um treino ou prova, independente da distância.
Criar expectativas em relação ao tempo final e ao pace previsto para uma prova é normal à maioria dos corredores, seja qual for o seu nível de desempenho. Até mesmo alguns inscritos que vão as provas apenas “para completar” não deixam de conferir o tempo final e se alegrar com a conquista ou se decepcionar com o tempo ruim.
Essa relação entre pace pré-estipulado para uma determinada distância e resultado final, deve estar diretamente relacionado ao que foi treinado. É impossível realizar um treinamento, em velocidades aquém daquela definida para uma prova ou criar expectativas para um recorde extraordinário ao largar em um pace fantasioso.
Essa é uma das causas de “quebra” durante as provas e principalmente de decepção quando o corredor tenta fazer na prova aquilo que nunca fizera durante os treinos.
Ter o controle do treino através da velocidade conduz o corredor a se conhecer melhor, saber o ritmo que é capaz de manter e com isso prever, além de controlar
com excelência o ritmo adequado para concluir uma determinada distância dentro de uma estratégia real e coerente com o que foi realizado no treinamento.
Na corrida é fundamental ter o controle de todos os componentes de carga que irão estruturar o treinamento. Segundo Zakharov (1992), a carga de treinamento é um estímulo capaz de provocar alterações no organismo e dimensionado através dos componentes: volume, intensidade, freqüência, densidade e duração.
Sendo assim a intensidade não pode ser definida pelo tempo, controlamos essa variável de treino através do componente duração.
A intensidade também não pode ser definida pela distância, para essa utilizamos o componente volume.
A freqüência é um componente que define as sessões de treinos semanais, portanto não podemos associá-la a intensidade; e a densidade diz respeito entre a relação estímulo / pausa aos treinos fracionados.
Analisando todos os componentes de carga, podemos dizer então que a velocidade na corrida é controlada somente através do componente de carga intensidade.
Se utilizarmos outros parâmetros para medir a intensidade do treinamento como frequência cardíaca, VO2máx ou limiar anaeróbio, ainda assim iremos relacionar esses a um percentual de intensidade e correlacioná-los à velocidade.
Exemplo: Correr a 60% da F.C deverá ter relação a uma velocidade “X”, 80% do VO2máx significa uma velocidade “Y”, ou determinado percentual do limiar anaeróbio a uma velocidade “Z”.
A projeção de um resultado e possível previsão dessa performance torna se possível quando utilizamos a velocidade como parâmetro medidor e controlador da intensidade do treino. Os demais parâmetros como a F.C e VO2 max servirão apenas como sinalizadores do que foi realizado e assim podemos analisar as alterações fisiológicas que o treinamento impôs após um determinado período de treinos.
Em provas bem organizadas podemos verificar placas de sinalização de quilômetros, que servem não somente para indicar a distância já percorrida ou ainda quantos quilômetros nos restam, mas também para orientar o ritmo feito a cada trecho.
Sei que muitos corredores não conseguem visualizar todas essas placas, são muitas as informações e atenções necessárias durante uma competição: atenção aos corredores adversários, às curvas, ao piso, ao cronômetro, aos postos de água, como abrir o copo, como beber o isotônico, a música em seus fones, mas acreditem: todas as placas de quilômetros estavam e sempre estarão lá e auxiliam para indicar o seu ritmo de prova, ou seja, a sua velocidade.
Para cada método de treino diferente, uma velocidade diferente deverá ser aplicada. É uma simples questão de relação entre volume e intensidade. Maior distância, menor velocidade e vice-versa.
Treinos intervalados deverão ser realizados em velocidades maiores que a velocidade de prova. Não justifica fracionar um treino na mesma velocidade que você consegue correr continuamente uma determinada distância.
Treinos longos deverão ser realizados em velocidade menores que a velocidade da prova, isso nos casos em que o volume do treino longo for superior à distância da prova.
Treinos de rodagem, contínuos ou regenerativos deverão ser realizados sempre em velocidades menores que os treinos longos.
Cada método tem um objetivo e um propósito diferente e assim utilizamos velocidades diferentes a cada um. Também não justifica realizar métodos diferentes nas mesmas velocidades.
Determinar a velocidade adequada a cada método dependerá da referência que temos no início do planejamento e em ajustes ao longo do treinamento.
Uma ótima referência para definir a velocidade nos treinos e competições é justamente o último tempo recente em prova. A partir desse referencial, conhecemos nosso atual rendimento em uma determinada distância e então planejamos o ritmo para cada método. Caso não tenha esse referencial, basta criar um, através de testes ou de uma determinada distância pré estipulada.
O referencial deverá ser adequado à distância da prova pretendida, caso contrário, a manipulação das velocidades será inadequada ao objetivo final. O resultado obtido a cada prova servirá como parâmetro para ajustes da velocidade na sequência do treinamento, e então teremos uma excelente avaliação e podemos inclusive abrir mão de testes laboratoriais que demandam custos.
Ter o controle do treino através da velocidade significa ter um ótimo parâmetro capaz de relacionar o que foi feito durante o treinamento à previsão de desempenho em uma prova. Levando sempre em consideração as condições do percurso e clima, além de outros fatores externos que podem facilitar ou dificultar o seu desempenho. Dessa maneira o corredor poderá largar em um ritmo pré definido a sua real capacidade e concluir dentro de uma previsão acertada ao invés de largar em um pace incoerente acompanhando o tal amigo dos quatro por mil e ao término se decepcionar. Afinal, quinze segundos por quilometro são suficientes para “quebrar” um corredor não treinado para isso.
Outro fator importante nesse controle através da velocidade é a preparação mental e biomecânica, pois, o corredor aprende a associar o ritmo desejado em cada treino, e assim saber do que é capaz de manter em uma competição, minimizando os erros.
Na corrida tudo são números: velocidade é igual a distância sobre o tempo!
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Participo da assessoria Marcelo Camargo Treinamento desde 2014, quando decidi correr a minha primeira maratona. Fiz contato com o Marcelo e iniciei meu ciclo de treinamento para correr em Chicago, 10 meses antes da prova.
O mais impressionante foi que com 1 mês de treinamento eu já bati meu recorde pessoal na Meia Maratona e comecei a perceber que a cada semana eu ficava mais treinado.
De 2014 até 2019 eu corri 7 maratonas e várias meia maratonas e com 46 anos eu continuo batendo meus recordes pessoais todos os anos e isso é uma prova que a metodologia usada pelo Marcelo funciona.
Marcelo conhece muito de corrida e de treinamento esportivo, não só porque tem muita experiência profissional, mas também porque é corredor de rua e dos bons. Ele tem a capacidade de entender e desenvolver todos os seus atletas para eles atingirem seus objetivos no esporte. A metodologia usada por ele respeita a particularidade da vida de cada atleta, adequando o tempo disponível para treinamento aos compromissos pessoais e profissionais de cada um. Somado a isso os treinos são 100% personalizados.
O acesso ao Marcelo é muito grande, pois ele retorna muito rapidamente aos contatos dos seus atletas.
Eu tenho muito orgulho de treinar com Marcelo Camargo.
Manoel Pedrosa
Recife / PE
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