Por Marcelo Camargo
Já dizia meu professor na faculdade:
“Se quiser ganhar massa muscular no bíceps não adianta treinar panturrilha”. Claramente entendido, nunca mais esqueceria que “se quiser melhorar o desempenho em algo, treine especificamente.”
Corredores gostam de correr. Alguns, além de correr gostam de pedalar e nadar até descobrirem que se tornarão melhores corredores quando priorizarem a corrida ao invés de praticarem outras modalidades, principalmente em dias de descanso.
Corredores gostam de correr, não gostam de musculação, embora necessário e fundamental. Corredores não gostam de pedalar, nadar. Corredores gostam de correr.
Corredores disponibilizam pouco tempo para treinar dentro da sua rotina de trabalho, estudo, família. Como posso encontrar mais tempo para outros treinos? Não há tempo livre, a não ser que não durma.
Se controlar a carga do treinamento da corrida é complexo e difícil, imagina ainda ter que controlar o ciclismo ou a natação e ainda cruzar todas essas informações: treinamento, descanso, trabalho, família, alimentação.
Não estou falando em triatletas. Estes sim, optaram em três modalidades e devem treinar especificamente as três, afinal estou falando em especificidade do treinamento.
Na educação física sempre temos um lema quando precisamos solucionar duvidas de nossos atletas e que às vezes se torna um dilema para quem pergunta.
Para toda pergunta feita, uma mesma resposta:
“Depende!” Ou então: “A prioridade é…”
– O que é bom pra melhorar na corrida?
– Depende.
– Se eu fizer aula de bike melhoro a corrida?
– Depende. Qual é a sua prioridade, corrida ou bike?
– Se eu correr atrapalha o meu ganho de massa muscular?
– Depende. Qual a sua prioridade, musculação ou corrida?
Se for ganho de massa muscular com fins estéticos e ao mesmo tempo melhorar o rendimento na corrida, esqueça. Um sempre terá prioridade sobre o outro e nunca
conseguiremos ser bom nos dois. Se quiser ser bom na corrida, dê prioridade à corrida. Se quiser ganhar massa muscular, dê prioridade a musculação.
Poucos estudos nos mostram a transferência e ganho através de outras modalidades em benefício à corrida e muitos estudos nos mostram que através do treinamento específico da corrida, os ganhos são bem maiores.
Na prática vivenciamos situações estranhas, como a de um corredor que treina todos os dias controlando a freqüência cardíaca (F.C) em limites máximos e mínimos, mas na hora da prova pouco importa o que registra o seu frequencímetro e consequentemente, a máxima (F.C) alcançada extrapola o limite.
Por diversas vezes me deparo em uma prova, com alguém acompanhando meu ritmo, ouço o apito do relógio e “tento” avisar ao colega corredor que ele está fora da faixa ideal de freqüência cardíaca e então brinco:
– “Ei, diminui seu ritmo ai, seu relógio está avisando! Pi-pi-pi-pi-pi”
Quer dizer então que o corredor treina de uma forma mas na prova executa de outra?
Onde está a especificidade nisso? É preciso realizar treinos onde a biomecânica, a velocidade da corrida empregada, e até mesmo a duração esteja igual ao que será realizado na competição.
Executar na prova algo diferente do que foi realizado nos treinamentos é muito comum aos corredores e um erro extremamente grave. Faça algo que nunca fez e a chance de dar errado em uma prova será muito grande.
Quer treinar em subida porque a próxima prova terá muitas subidas? Então, treine em uma rampa que tenha o mesmo grau de inclinação e a mesma distância do trecho na competição. Sair correndo por ai e eventualmente passar por um trecho em subida não o fará melhor para o que virá na prova.
Seja específico. Um dos princípios do treinamento mais exemplares que temos é o princípio da especificidade: “Um estímulo só é eficaz quando é específico para o desporto ou ato motor a que se destina”.
Se quiser ser melhor na corrida, corra!
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"Combinando uma metodologia de treinamento simples, eficaz e objetiva, Marcelo Camargo consegue levar seus alunos com segurança aos resultados pretendidos."
Amaury Neto - Rio Branco/AC
(Foto Meia Maratona de Buenos Aires 2019)